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A palma dorme, a palmeira morre


Tive o privilégio de passar o primeiro período de confinamento da pandemia de COVID-19 em uma casa de praia no Brasil. Assim, me tornei simultaneamente um espectador da crise sanitária e de uma crise ambiental ainda mais fatal, a do aquecimento global. Esta última se apresentava diariamente através do lento declínio dessa faixa costeira de imensa diversidade, devido ao desaparecimento da minha praia. O homem desafia o mar em relação à terra, contribuindo para o aumento do nível da água, que continua a corroê-la. Essa linha costeira, esse estranho entremarés, essa última fronteira que avança inexoravelmente.

Todas as semanas, às vezes todos os dias, eu descobria em nossa praia um ou mais coqueiros que haviam passado da vida para a morte. Eu testemunhava a lenta morte desses vibrantes guardiões que antes purificavam os céus além-mar ao ritmo dos ventos alísios. Uma árvore interrompia sua trajetória natural em direção ao zênite, ao ar e ao sol. Uma árvore que passava de uma verticalidade animada e barulhenta para uma horizontalidade silenciosa e morta, após um desenraizamento lento. Como não ver analogias com a nossa condição humana?

Durante alguns meses, fotografei o meu horizonte confinado, uma faixa de areia com alguns quilômetros de extensão, delimitada por dois estuários e um coqueiral. Esse cemitério marinho a céu aberto, entre a terra e o mar. O último encontro entre a natureza e seus elementos.

As fotos estão organizadas em cinco séries, numa progressão temporal que vai de Lives a Lives, depois Fall, Uprooting, Lying e por fim Sandy.
Vies à vies é o face-a-face terra-mar, a sombra lançada pela árvore sobre o oceano.
Ao cair, a palmeira deixa a verticalidade viva e vibrante.
O desenraizamento é a perda do vínculo com a Mãe Terra.
Deitar é o começo da horizontalidade muda e mortuária.
Lixado, é finalmente o enterro, o desaparecimento desses totens vivos.

Como não ver metáforas com a nossa condição humana! Boa viagem!

La palme dort

Optei por uma busca de equilíbrio e rigor geométrico em imagens esboçadas. Gosto de imaginar as minhas composições, de construir a imagem. Nada deve ser supérfluo; tudo deve ser depurado para conferir uma aparência minimalista. A imagem, portanto, deve restringir-se à abstração, ao atemporal. Adoro o vazio dos espaços, a sensação de solidão e a doce latência que tornam o invisível visível.

Gosto de vagar, de tirar fotografias em movimento. Trabalho com uma câmera digital de distância focal fixa, uma grande angular para mergulhar na paisagem ou destacar um primeiro plano, e sem tripé fotográfico, para ganhar espontaneidade; também trabalho com um drone, para abordar a terceira dimensão das cenas em uma perspectiva vertical.

Exposição no Espace Points de Vue, em Lauzerte, França, entre 6 de maio e 14 de junho de 2023;